Candidato de oposição à presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Marco Antonio La Porta propõe descentralizar os centros de treinamento (CTs) pelo país para a descoberta e o aprimoramento de atletas e que haja uma maior diversidade de esportes entre os membros da diretoria.
“Hoje, o COB tem o Centro de Treinamento no Rio de Janeiro, no Maria Lenk, e não tem outros centros de treinamento pelo Brasil, que possam absorver esses atletas. Pretendemos estar no Nordeste, com o Centro de Formação Olímpica, em Fortaleza, em São Paulo, no NAR [Núcleo de Alto Rendimento], que hoje já atende sete confederações, e tem o Centro Olímpico [de Treinamento e Pesquisa, o COTP, no Ibirapuera]”, disse o candidato.
Ex-vice-presidente do COB, La Porta acredita que possa realizar parcerias com governos estaduais e prefeituras para implantar esses centros de treinamento olímpicos pelo Brasil aproveitando estruturas já existentes.
“Vamos conversar com a prefeitura [de São Paulo]. Podemos ampliar para outros centros de treinamento pelo Brasil”, acrescentou o dirigente, que deixou a vice-presidência do COB em março justamente para concorrer ao cargo.
Segundo ele, há outros centros de treinamento espalhados pelo Brasil que podem firmar parcerias com o COB para esse trabalho, como os da Universidade Federal de Santa Maria (RS) e da Universidade de Brasília (UnB).
Eleição
La Porta, que tem Yane Marques como vice-presidente, concorre com o atual presidente, Paulo Wanderley Teixeira, cujo vice é Alberto Maciel Júnior, na eleição do comitê, que será realizada pela Assembleia do COB, no dia 3 de outubro, no Rio de Janeiro (RJ).
O colégio eleitoral é formado por 55 eleitores: 34 presidentes das confederações brasileiras olímpicas, 19 representantes da Comissão de Atletas do COB (Cacob) e os dois representantes brasileiros no Comitê Olímpico Inernacional (COI), que são o ex-jogador de vôlei Bernard Rajzman e Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês).
Diversidade
Uma das propostas de La Porta, que foi chefe de missão do COB nas Olimpíadas de Tóquio 2020, na melhor participação do Brasil na história dos Jogos, é contar com dirigentes de mais esportes na diretoria do comitê brasileiro.
A proposta é uma clara alusão à chamada “República do Judô”, que domina os principais cargos da gestão atual, de Paulo Wanderley Teixeira, que também foi presidente da Confederação Brasileira de Judô (CBJ).
O candidato quer mostrar isso já na sua chapa. Ele vem do triatlo, enquanto sua vice, Yane Marques, é ex-atleta do pentatlo moderno. Yane conquistou a medalha de bronze na modalidade nos Jogos de Londres 2012, no único pódio do país na história da modalidade.
“Costumo fazer uma brincadeira que é a seguinte: o pessoal pode ficar tranquilo porque, se eu pegar o pessoal do triatlo e a Yane pegar o do pentatlo moderno, não sobra ninguém”
Marco Antonio La Porta, candidato à presidência do COB
“Entendo que a diretoria atual tenha pessoas de confiança. Isso é normal em qualquer empresa. Não é nada contra os nomes que estão lá. Trabalhei com eles e só tenho palavras boas para falar. Mas, ao mesmo tempo, você precisa de diversidade. Você precisa de ideias diferentes”, completou.
Compondo a chapa com La Porta, Yane Maques tem experiência de gestão por ter sido presidente da Cacob até março, cargo do qual se desligou para se candidatar.
Ela também é formada em Educação Física e se tornou, em junho de 2023, secretária executiva de Esportes Educacionais, da Secretaria Municipal de Educação do Recife (PE).
“Nossas propostas não saíram da minha cabeça e do La Porta. Queremos escutar confederações, clubes e atletas, que representam todo o Movimento Olímpico. Ter a sensibilidade de saber que cada modalidade tem uma história, que vai trazer uma contribuição relevante”, afirmou Yane.
Três pilares
La Porta revelou que sua proposta de governo passa por três pilares: resultados esportivos, gestão e governança, e imagem do COB.
“Estamos com uma preocupação muito grande em relação ao que aconteceu em Paris [nas Olimpíadas] porque o Brasil vinha numa curva ascendente desde alguns Jogos Olímpicos atrás e parou de evoluir”, disse o dirigente.
O candidato criticou a saída de Jorge Bichara, ex-diretor de esportes do COB e pessoa muito querida pelos atletas, em março de 2022, no meio do ciclo olímpico até Paris.
Bichara, hoje diretor técnico da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), foi substituído por Ney Wilson, que passou a cuidar do alto rendimento, e Kenji Saito, que gere a área de desenvolvimento. Ambos os profissionais vieram dos tatames, aumentando as críticas em relação à “República do Judô” no COB.
“Entendemos que a principal causa dessa parada foi o investimento que não foi assertivo. Não se pensou em um planejamento a longo prazo e interrompeu-se um trabalho que vinha sendo feito. Se colocou novos profissionais, que não têm culpa no processo. Mas são dois anos para conhecer todas as modalidades”, analisou La Porta.
Gestão e governança
Na parte de gestão e governança, o candidato propõe uma administração mais descentralizada.
“Proponho uma gestão colegiada, termos decisões com maior participação dos presidentes de confederações e atletas. E o presidente do COB não será mais o presidente do Conselho de Administração”
Marco Antonio La Porta, candidato à presidência do COB
Outra ideia é estabelecer duas subsedes do COB, uma em Brasília (DF) e outra em São Paulo (SP). Na capital federal, seria um escritório para desenvolver um relacionamento mais forte com o Governo Federal, seja com o Ministério do Esporte, seja com o Congresso Nacional. Na capital paulista, o foco seria a questão comercial.
“Boa parte das confederações fica em São Paulo, muitos dos nossos atletas estão lá. Seria um escritório mais comercial”, contou La Porta, que também pretende utilizar a subsede de São Paulo para desenvolver um programa de e-Sports, modalidade que terá seus próprios Jogos Olímpicos na Arábia Saudita, em 2025.
Imagem
Por fim, o que o candidato chama de imagem se refere ao Programa Top, que pretende distribuir mais recursos para as confederações olímpicas.
“Vi que o Paulo Wanderley falou do Programa Top no evento da Caixa, que é uma ideia antiga, de 2022, mas que ainda não foi implantada”, destacou La Porta, referindo-se ao anúncio do patrocínio da Caixa Econômica Federal ao COB para o ciclo que irá até os Jogos de Los Angeles 2028.
“Se fala, fala, fala, mas não é botado em prática. Esse Programa Top é fazer chegar os recursos privados nas confederações”, salientou o candidato.
Outra ideia é estabelecer uma aproximação com o COI e com a Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais (Anoc, na sigla em inglês).
“Tem muitos recursos que podem surgir com uma boa relação com a Anoc e o COI. São recursos que o COB não tem acessado porque, hoje, não tem essa relação”, finalizou.