Acostumada às dificuldades financeiras nos últimos dez anos, a Portuguesa passará a contar com investimentos milionários nas próximas temporadas com a adesão do clube à Sociedade Anônima do Futebol (SAF) e a chegada do consórcio de investidores formado por Tauá Partners, XP Investimentos e Real Estate Venues & Entertainment Participações (Revee).
“Temos previstos para os próximos cinco anos R$ 270 milhões para o futebol, tem algo em torno de R$ 500 milhões para fazer a arena, e o resto é renegociação de dívida. Não sei quanto vai ser esse valor”, contou Alex Bourgeois, sócio da Tauá Futebol, braço esportivo da Tauá Partners e responsável pela gestão da SAF da Lusa, em entrevista à Máquina do Esporte.
A proposta divulgada oficialmente é de investimentos de R$ 1 bilhão para a aquisição de 80% da SAF da Portuguesa. O restante (20%) continuará nas mãos do clube associativo. O negócio foi aprovado no último dia 14 de novembro por aclamação pelo Conselho da Lusa. Agora, necessita do aval na assembleia de sócios para ser efetivado.
“Nosso projeto é no futebol, não é imobiliário. Desde o início das negociações, deixamos claro que queremos fazer uma espécie de retrofit: transformar o Canindé em uma arena moderna e multieventos”, ressaltou Bourgeois.
Multieventos
A localização privilegiada do Canindé, na zona norte paulistana, com fácil acesso a uma importante via como a Marginal Tietê e relativamente perto da Estação Portuguesa-Tietê do metrô, é um dos trunfos da futura gestão para atrair shows ao local. O modelo seguido é semelhante ao implantado pelo Palmeiras em sua parceria com a WTorre no Allianz Parque.
A ideia é contar com um estádio para 30 mil pessoas para os jogos de futebol e 50 mil para os demais eventos. A reforma será tocada pela Revee, que ainda necessita apresentar o projeto e obter as autorizações na Prefeitura de São Paulo.
Após a remodelação do espaço, a empresa será responsável pela gestão do local por 50 anos, repassando um percentual entre 10% a 15% do faturamento de eventos que não sejam partidas de futebol ao clube. A arrecadação com os jogos será inteiramente da Portuguesa SAF.
“Temos a estimativa de que ela irá repassar pouco mais de R$ 4 bilhões à SAF da Portuguesa em 50 anos”
Alex Bourgeois, sócio da Tauá Futebol
A previsão é de que sejam necessários 36 meses de obras para a readequação do Estádio do Canindé. Nesse período, a ideia é utilizar o Pacaembu (que ainda não foi reinaugurado) para a Portuguesa mandar seus jogos.
Planejamento
Nova rica do futebol paulista, a Portuguesa já tem um investimento previsto de R$ 30 milhões com o futebol em 2025. O objetivo é passar da primeira fase do Paulistão e conquistar o acesso na Série D do Campeonato Brasileiro.
“Mas estamos com muito pé no chão. Como estamos iniciando nosso planejamento muito atrasado em relação ao que tínhamos feito, nosso objetivo hoje é ficar na Série A do Paulista, que é muito importante”, admitiu Bourgeois.
A nova SAF inicia trabalhos com um pouco de sorte. O clube garantiu, nesta semana, uma vaga na Copa do Brasil, já que o São Paulo conseguiu classificação direta para a terceira etapa da competição via Campeonato Brasileiro. Com isso, a Portuguesa era a próxima da fila.
Se os objetivos são modestos para o Estadual, para a Série D a ideia é conquistar o acesso à terceira divisão já na próxima temporada. Até porque a Portuguesa deve iniciar o campeonato como o maior investimento entre todos os times que disputarão o torneio.
“Seremos o maior investimento em todas as divisões que disputarmos até a Série B, quando eventualmente iremos ficar atrás de algum time grande que tenha caído naquele ano”
Alex Bourgeois, sócio da Tauá Futebol
Até 2029, a ideia dos investidores é ter o retorno da Portuguesa à Série A do Brasileirão, torneio que o clube não disputa desde 2013. À ocasião, o time caiu após a polêmica perda de 4 pontos pela escalação irregular do meia Heverton em um jogo contra o Grêmio, válido pela última rodada da competição.
“Queremos resgatar a rica história da Portuguesa como quarto maior clube da capital paulista e time formador de grandes talentos para o futebol brasileiro”, afirmou o executivo.
Categorias de base
Outro foco do investimento na Portuguesa será resgatar as categorias de base da Lusa, que no passado foram responsáveis por revelar muitos jogadores ao futebol brasileiro, como Djalma Santos, Enéas, Dener, Zé Maria, Zé Roberto e Ricardo Oliveira.
“Nosso foco inicial é recolocar a Portuguesa como grande revelador de jogadores inicialmente para o Brasil e posteriormente para o exterior. Para fazer isso, vamos transformar nosso centro de treinamento na Cidade Lusa”, disse Bourgeois.
O executivo ainda afirmou que haverá intenso intercâmbio com times do exterior, graças aos contatos que ele colecionou ao longo da carreira. São os casos de Benfica (Portugal); Padova e Ascoli (Itália); Charlton (Inglaterra); Lens e Brest (França); e Millonarios (Colômbia), entre outros.
“Algumas dessas parcerias já estão fechadas e outras, bem encaminhadas”, finalizou Bourgeois.