Vivendo uma crise de conexão com sua população, a seleção brasileira deu mais um passo para longe de sua torcida com a eliminação nas quartas de final da Copa América 2024, no sábado (6). Nesta segunda-feira (8), a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) saiu em defesa da equipe com um vídeo em que exalta a importância das derrotas para a evolução do futebol brasileiro.
A entidade máxima do futebol nacional reuniu momentos em que a seleção brasileira também passou por questionamentos sobre sua dominância no esporte mais praticado no mundo, como em 1982, quando foi eliminado antes das semifinais.
“Somos a seleção mais vencedora do planeta, mas perder faz parte da nossa história. Perdemos mais do que ganhamos. Na Copa, um ganha e 31 perdem. Ganhamos cinco Copas, perdemos 17. Não vencer constrói a vitória, mas é sempre bom lembrar: já estivemos nesse mesmo lugar antes”, diz a narração do vídeo que ultrapassa 2,7 milhões de visualizações no Instagram.
Mesmo com a mensagem positiva, o que se viu nos mais de 21 mil comentários foi um grande descontentamento com a situação da equipe comandada por Dorival Júnior e a entidade presidida por Ednaldo Rodrigues. Torcedores insatisfeitos questionaram o futuro da seleção e relembraram o aniversário do 7 a 1, que completou 10 anos nesta segunda-feira (8).
Na visão de Marcos Bedendo, professor de Branding e Marketing na ESPM, a estratégia utilizada pela CBF, mesmo com todas as críticas sofridas, foi melhor do que o silêncio.
“No ponto de vista de gestão de comunicação, você tem que saber que quando faz isso as pessoas vão falar bem ou mal. No caso estão falando mal, mas não acho que seja um movimento negativo, ao passo que pelo menos a CBF abre a discussão e simplesmente não ignora”, disse o especialista em entrevista à Máquina do Esporte.
“O vídeo não justifica, não mostra um caminho de evolução, não faz nada. Simplesmente abre um espaço para as pessoas reclamarem. Acho que é melhor do que não fazer nada. Talvez tenha sido uma tentativa de ser transparente”, seguiu.
Crise
Para além dos resultados atuais, um dos incômodos dos torcedores da seleção brasileira é o futuro da equipe. Nos comentários, torcedores ponderam até mesmo as chances do Brasil de, pela primeira vez na história, não conseguir se classificar para a Copa do Mundo.
Nesse contexto, Marcos Bedendo aponta o vídeo como um sintoma de um futuro incerto. O especialista avalia que a recorrência da CBF ao passado demonstra sua falta de planejamento sobre os próximos passos.
“A grande frustração vem menos da derrota e mais da incapacidade de ver um caminho de futuro. A seleção poderia ter perdido, mas se perdesse de outro jeito ou ao menos tivesse uma projeção de melhoria para os próximos campeonatos, naturalmente você relevaria, assim como eles colocam no video”, afirmou.
“Se existisse um plano claro, a CBF falaria sobre o plano. Como não existe, ela recorre aos feitos do passado. Se houvesse um futuro sendo trabalhado, de fato a gente poderia ter alguma sinalização. Como para frente existe um enorme vazio, resta falar sobre o passado”, comentou.
Engajamento
Para Marcos Bedendo, ainda que não seja nada simples, o melhor caminho para a reconstrução da imagem da seleção brasileira é a retomada dos bons resultados. Ainda assim, o especialista acredita que um bom trabalho de comunicação tem o potencial de facilitar o processo.
“No final das contas, o engajamento vem da torcida quando se ganha. A reconstrução da imagem da CBF passa pela vitória. Ainda assim, um bom trabalho de organização também traz pontos positivos, talvez até a mídia esportiva fosse mais leniente durante essa fase se houvesse um trabalho sendo feito”, disse.
O vídeo, na visão do especialista, é uma resposta pequena em comparação aos problemas que a CBF tem em mãos, tando dentro de campo quanto fora dele.
“É uma tentativa de dar algum tipo de satisfação, uma maneira de talvez justificar o fracasso. É um vídeo que não empolga, e os problemas da CBF são muito maiores do que dar uma resposta para as pessoas que hoje não estão confiando na seleção. Esse processo é de longo prazo, não é um vídeo postado na sequência de uma derrota que vai resolver ou engajar as pessoas. O que engaja é a vitória”, concluiu.